top of page
Buscar

Mickey 17 – Um filme intrigante, mas inacabado

  • Foto do escritor: Thiago Henrique Sena
    Thiago Henrique Sena
  • 4 de abr.
  • 3 min de leitura



Desde 2019, após o sucesso de público e crítica com Parasita (Gisaengchung, 2019), o mundo aguardava ansiosamente o novo filme do cineasta sul-coreano Bong Joon-ho. A espera chegara ao fim em 2025, com o lançamento de Mickey 17 (2025), protagonizado por Robert Pattinson. Distribuído pela Warner Bros, o longa é uma ficção científica carregada de teor satírico e político, refletindo aspectos do nosso mundo atual, com críticas direcionadas principalmente a líderes da extrema-direita. Mas será que o filme está à altura das expectativas?


Muitas incertezas cercaram Mickey 17. A produção foi adiada diversas vezes, seja devido às greves na indústria de Hollywood ou por questões de agenda. Inicialmente, o lançamento estava previsto para 2024, segundo informações de sites especializados. O adiamento de quase um ano gerou dúvidas sobre a qualidade da obra e até rumores de conflitos dentro da equipe.


Finalmente, em março de 2025, o filme estreia nos cinemas ao redor do mundo. E o que esperar? Se você está familiarizado com a filmografia de Bong Joon-ho, já sabe que encontrará uma narrativa politicamente engajada. Seja em O Hospedeiro (Gwoemul, 2006), no cativante Okja (2017) ou em sua obra-prima, Parasita, o diretor sempre trabalha com alegorias sociais e humor ácido. Visualmente, Mickey 17 conta a história de seu protagonista homônimo, que se voluntaria para um projeto como um “descartável” — um humano que pode ser clonado e reimpresso, servindo como uma espécie de pária para missões perigosas ou suicidas. Logo no início, por exemplo, ele é repetidamente infectado com um vírus mortal para que os cientistas possam descobrir uma cura. Tudo isso ocorre durante uma missão interplanetária cujo objetivo é encontrar novos planetas para colonização terrestre. A trama é permeada por humor e por uma crítica contundente ao sistema capitalista, que trata os seres humanos, especialmente a classe trabalhadora, como meros objetos descartáveis.


Essa percepção fica evidente em cenas como as que mostram os comandantes da nave, Kenneth Marshall (Mark Ruffalo) e sua esposa Ylfa (Toni Collette), tratando os trabalhadores e soldados de forma desumana. Seus discursos, que ecoam ideias de extermínio e supremacia racial, chocam tanto as outras personagens quanto o público.


O clímax da história ocorre quando uma nova versão de Mickey é impressa antes que a anterior tenha morrido, resultando na coexistência das versões 17 e 18. Esse fenômeno, chamado no filme de “múltiplo”, é proibido, e ambas as versões precisam encontrar meios de sobreviver enquanto testemunham os planos de colonização de um novo planeta.


Em linhas gerais, essa é a premissa do filme. Mas a execução dessa narrativa é satisfatória? A resposta é sim, mas com ressalvas. Mickey 17 é uma obra interessante, porém transmite a sensação de estar inacabada. Um exemplo disso é uma subtrama desenvolvida no meio do filme, envolvendo uma personagem e Mickey. O enredo sugere que essa personagem é crucial, inclusive com uma fala, direciada a ela, que afirma: “Você é o ser humano ideal para a nova colônia”. No entanto, após o diálogo, essa trama é abruptamente abandonada, e a personagem desaparece por grande parte do filme, retornando apenas nos minutos finais, sem qualquer fala ou relevância. Parece que a cena foi cortada ou que algo essencial foi deixado de fora da versão final. Essa sensação é bastante incômoda, pois o espectador fica esperando um desfecho que nunca acontece. Além disso, o filme apresenta problemas de som, embora não seja possível determinar se a falha é da produção ou da sala de exibição. Esses contratempos prejudicam a experiência, afetando uma história que, em essência, tem muito a oferecer.


No fim das contas, Mickey 17 é um bom filme, mas incompleto. Após Parasita, Bong Joon-ho elevou o padrão de qualidade de suas obras, e Mickey 17 sofre com a expectativa de ser o sucessor de uma obra-prima. Colocando em perspectiva, isso acaba ressaltando os defeitos da produção mais recente. No entanto, desconsiderando essa comparação, o filme apresenta uma premissa instigante, que proporciona ao público tanto entretenimento quanto reflexões sobre temas como colonialismo, exploração da mão de obra e a desumanização do indivíduo no sistema capitalista.

 
 
 

Kommentare


PARCEIROS

Ativo 1.png
Ativo 2.png
são luiz 1.jpg

© 2025 Aceccine - Associação Cearense de Críticos de Cinema

bottom of page