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MEU NOME É MARIA | UMA TRAGÉDIA REAL NOS BASTIDORES DE UM FILME

  • Foto do escritor: Raiane Ferreira
    Raiane Ferreira
  • há 17 horas
  • 3 min de leitura



Não é de hoje que se sabe da história de abuso que circulou nos bastidores do drama erótico O Último Tango em Paris (1972) do diretor Bernardo Bertolucci. O filme e o diretor ainda chegaram a ser indicados em festivais como Oscar e Globo de Ouro. Mas após inúmeras declarações de Maria Schneider, era difícil negar o ocorrido, e o filme deixou de ser um clássico cult para ser um exemplo inaceitável de práticas de abuso e humilhação no universo do cinema. E agora a história de Maria Schneider é relembrada na cinebiografia Meu Nome é Maria com direção de Jessica Palud.


O longa traz a perspectiva de Maria desde a juventude até a maturidade. Quando jovem, o desejo de ser atriz desperta complicações familiares, mas, depois de um tempo ela recebe a oportunidade de ser atriz principal, mas que a proporciona uma das experiências mais traumáticas de sua vida que deixa marcas em sua vida e em sua carreira. A direção de Palud consegue propor um naturalismo aos eventos ilustrados, e usa uma decupagem que, certas vezes, simula a própria construção fílmica de O Último Tango em Paris, e que demonstrou na prática, como filmar o mesmo evento, alcançando o mesmo resultado, de forma respeitosa e acordada pelos atores, junto a um coordenador de intimidade.


O roteiro foi muito assertivo ao construir uma trajetória de altos e baixos, ressaltando a ruptura entre a Maria antes e depois do abuso. O filme não se prende apenas a experiência traumática, ele vai além mostrando uma linha crescente de más escolhas e desajustes na vida da atriz e das tentativas frustradas de superar as sombras do passado. Ele ainda consegue propor uma reflexão sobre os problemas que circundam as mulheres em produções masculinas. Como, por exemplo, a insistência por despir as atrizes sem nenhuma explicação plausível, ou o descumprimento de contrato por parte dos produtores.

Meu Nome é Maria (2025) se torna, assim, um filme necessário para a luta das mulheres no cinema. Se hoje existe um coordenador de intimidade, é por que se faz assim necessário, por tudo o que Maria, e outras atrizes, passaram. É preciso que devemos entender a importância dessa conquista, pois não é necessário quebrar regras para se ter uma boa performance dos atores, ou obter uma atuação mais “realista”.


É por isso que entendo ser problemático posicionamentos como o de Mikey Madison que recusou um coordenador de intimidade em Anora. A jovem atriz comentou “Foi uma escolha que eu fiz”, em uma conversa com Pamela Anderson para a seção Atores sobre Atores da Variety. Ela explicou que Baker e sua esposa, a também produtora Samantha Quan, ofereceram a ela a chance de trabalhar com uma coordenadora de intimidade, mas ela e seu parceiro de cena Eidelstein “decidiram que seria melhor manter pequeno. Conseguimos otimizar, filmar super rápido”.


Na minha percepção, talvez a falta de orçamento e de compreensão dessa nova posição no set por parte de Sean Baker e sua esposa, tenham influenciado a jovem atriz na decisão. Pois é muito comum diretores homens escolherem trabalhar com atrizes jovens, com pouca vivência cênica, para facilitar certas decisões que uma atriz com mais experiência não concordaria. Como exemplo, temos o ocorrido com Maria Schneider, que aos 19 anos foi violada e humilhada em cena, não recebendo suporte algum de nenhum profissional presente, e que a fez se sentir “um pouco estuprada pelos dois”, como ela bem disse. E o resultado disso tudo foi uma tragédia vivida por uma mulher.


 
 
 

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